sexta-feira, 11 de março de 2011

A Saga do Busão

Saga 1 - A Tia

    Ééééé meus amigos... Sempre que vejo televisão, olho nos telejornais e vejo uma fila imensa de carros, ruas e avenidas lotadas, gente estressada, uma loucura típica de uma megalópole como São Paulo. Quem vive aqui sabe, aqueles britânicos 15 minutinhos de atraso não são charme, são apenas a ponta de um iceberg que num dia mais ou menos bom, chega a ter 40 quilômetros de extensão.. Não tem zona, norte, sul, leste, oeste que dê jeito, Se São Paulo, tivesse mar, certeza que ia ter congestionamento de barcos em todas as hidrovias que conseguissem ser terminadas pelos nossos governantes...
    Mas a questão nem é essa, o trânsito daqui é fd... Mas alguém ai já experimentou estar no meio dele.. No busão? Isso sim é aventura, lento, quente, lotado, caro e em péssimas condições. Veja o meu exemplo, moro há 7 quilômetros do meu serviço, pego duas conduções para ir ao trabalho, uma de perto de casa até o terminal Santana e outra que me deixa na Vila Guilherme, onde trabalho. Isso prá vir.. Prá voltar já desisti, vou a pé meus 7 quilômetros diários e quer saber, suo que nem leitão de véspera, fico cansado, mas ainda assim consigo a proeza de chegar antes do busão.. É, eu chego antes, e não é pouco não.. Chego antes dele 40 minutos, num parâmetro mais ou menos, quando eu deveria estar chegando em casa, eu já estou de banho tomado vendo o transito na TV.
     Certeza que não é só tempo que economizo, economizo NEURÔNIOS, PACIÊNCIA e ao mesmo tempo exercito minha capacidade de não matar quando preciso...
     Num busão acontecem coisas que nem a mais fantástica das aventuras consegue relatar... Sério, queria ver se o Frodo e a Sociedade do Anel tivessem que ir a Mordor de busão... Estavam no caminho ainda, cercados de Orcs por todos os lados.
     Não sei se eu percebo as coisas de um nível diferente das pessoas, mas eu acho que é por isso que eu gosto de andar de ônibus, a realidade da vida nos traz tanta coisa engraçada, tantas situações que com um pouquinho de bom humor a gente vê uma situação normal se tornar tão engraçada que não tem outro jeito que não seja rir.
     O povo simplesmente não entra num acordo com a educação, eles entram no busão e agem como se todo mundo que está ali, tivesse pegado uma carona com o pai dele prá ir prá escola, sim... Os donos, digo, os filhos dos donos do busão são a pior espécie que habita nesse planeta, são como solitárias que entram no seus intestino e lá ficam sorvendo tudo que podem.
     Tipo, eu geralmente nem sento, porque se você senta, pela educação que minha mãe me deu, eu teria que levantar prá uma pessoa idosa, uma grávida, deficientes físicos, pessoas com crianças e essas coisas.
     Mas no busão existe um gás! Um gás do sono!
     É o caboclo sentar no banco com sinalização preferencial, pronto, bate um sono nesse povo que não há fitoterápico que se iguale, Engraçado é o contraste, você olha nos outros bancos e está todo mundo acordadíssimo, mas naqueles não... Por isso o gás do sono, engraçado que uma pessoa que hoje dorme no banco preferencial, amanha se sentar noutro lugar fica numa disposição incrível... não prega o olho por nada... Deve ser efeito colateral.
     Umas vez fui em pé com meu filho no colo, na época ele tinha 3 anos, num busão de Guarulhos da avenida Tucuruvi até dois pontos antes do final, onde eu ia descer. Engraçado que uma senhora de uns 80 anos, me viu com ele no colo e num gesto muito nobre se levantou prá que eu me sentasse, mas foi o tempo dela levantar e eu me virar prá dizer que ela poderia ficar sentada que o ser humano se mostrou, uma gorda de uns 100 quilos, 1,45 de altura, cara de quem nunca passou pelo portão da escola, deu um pulo no banco da senhora, e claro, deu uma bundada na tia jogando ela em cima de mim, foi num ato de heroismo que o cobrador conseguiu segurar a senhora porque eu com uma criança no colo não conseguiria nunca. Bom, quando nos recuperamos do baque, olha lá o gás do sono, a gorda, morfética, já tava lááááá na terra do nunca, bolinando com o Peter Pan, essa cabocla, desenvolveu a técnica de roncar acordada (pq aquela vaca não tava dormindo porra nenhuma)...
     Bom como todo bom cidadão paulistano e já que eu vou em pé mesmo, nem gasto com isso. Mas mesmo em pé, no meio da muvuca, tem um povo que insiste em ser desagradável...
     Uma vez uma tia insistiu que, mesmo ela estando lá na catraca, o lugar dela era lá no fundo perto da porta que desce. Ahh, outra sacada inteligentíssima das empresas de ônibus: FEROMONIOS! Eu acredito que eles usam um lubrificante a base de feromonios nas portas do busão, porque é só a caboclada entrar e lá vão eles em direção a porta e ficam lá... amontoados, o busão todo vazio, você olha perto da porta tá lá aquele povo, suado, uns colados nos outros e com cara de: "porque eu to perto da porta espremido, se láááááá do outro lado tá vazio?"
     Nessas horas agradeço por não ter um nariz muito esperto nesse tipo de captação de odores. Mas voltando a tia, ela veio do fundo espremendo todo mundo, e eu já puto pensei comigo: não acredito que ela quer mesmo ir pro fundo. E ela insistiu, veio empurrando todo mundo, engraçado que quando ela percebia que a cabeça dela não passava pelo vão (e olha que a cabeça dela era das boas... Era só sorrir e botar uma velas dentro e tava pronta pro Helloween) que ela se segurava nas pessoas e forçava a passagem, claro, ouviu um soneto inteiro de intempéries e desaforos, mas no afã em que ela se encontrava nem deu bola, seguiu em frente. Deu de cara comigo, meio de lado, meio de frente, pensou num plano e atacou, ou melhor apelou pro meu bom senso e disse em voz alta: moço, você pode por favor me deixar passar? Passei de passageiro a vilão num segundo, todo mundo me olhou com cara de poucos amigos, até os que estavam há 10 segundos xingando a mesma mulher.
     Claro, me coloquei nas pontas dos pé, cheguei o mais próximo que os bons costumes permitiram, da cara da moça que tava sentada e dei uma brecha prá ela passar.. Mas nunca na vida, acreditei que a outra moça, que tava de costas prá mim, em pé dentro do ônibus, ia fazer de conta que o assunto também não era com ela. E nem sequer respirou, do jeito que tava ela ficou, e a intrépida senhora (sim.. a mesma que todos queriam matar segundos atrás), se meteu entre o espaço que eu ACHEI prá ela passar e a moça que insistia em fazer de conta que não estava ali... e lá a tia ficou, eu na ponta dos pés (e olha que nunca fiz aulas de ballet...) quase subindo na cabeça da coitada que estava sentada...
     E a dor.. Caraca!!! a dor nos músculos da perna foi terrível... Deu cãibra na hora... ai perdi a gentileza.. e como no coletivo, a falta de educação silenciosa é uma constante, soltei o corpo e desabei com fé e coragem em cima da tia. A mulher tentava fica no lugar e eu lá, singelamente, abafando a respiração da coitada, num impeto de força, ela se livrou de mim e da moça, que agora eu mesmo tava em dúvida se ela tava lá ou não, uma vez que não esboçou nenhuma reação, apenas continuou lá... como se nada tivesse acontecido... De verdade, fiquei preocupado com essa moça.. só sosseguei quando vi que ela era bem capaz de respirar e andar ainda...
     Bom, ai a tia, aproveitando o esforço prá sair de debaixo de mim, passou pro fundo e lá ficou praguejando, disse umas coisas que só ela entendia, o que lhe valeu o apelido de Dilma Rousseff, porque tava falando bulgaro e gesticulando que é uma beleza... Nesse interim, algumas pessoas desceram do busão o que aliviou um bocado a situação caótica que estava antes. Fui até o fundo e me sentei (Banco Sagrado, lembra????) e adivinha quem tava bem do meu lado... SIM!!! Dilma Roussef, meio achando que eu ia sentar uma bifa na cara dela porque ficou latindo prá mim, tratou logo de puxar um assunto e eu não sou de guardar mágoa de ninguém, ainda mais duma pessoa que acabou de ver a morte de perto... Sai no papo com a mais nova comadre... Chegando no terminal, elas desceu na minha frente, porque eu deixei e fiz o sinal universal do: passa ai, tia... Só que ela desceu, parou , virou e me pediu isqueiro, eu ascendi o cigarro dela, ela deu uma longa tragada e disse:
     -Eu não aguentava mais, fico louca sem cigarro, sou uma fumante INVERTEBRADA...
     Eu mereço...

Saga 2 - Odores
     Tem coisa pior que logo cedo, 6:30 da MADRUGADA, o caboclo já sai de casa com o sovaco causando? Não.. Sai de casa o cacete, é expulso pela esposa, mordido pelo cachorro e ainda toma uma carreira dos vizinhos, porque, plena 6:30 da manhã, um sovaco em plena atividade só pode ser coisa de atleta... Meu, nessas horas eu sempre fico de olho no motorista, porque ele é o cara que recebe a primeira lufada assim que o encardido adentra o ônibus, é, os caras já levantam a mão prá pegar no apoio e subir, e quando sobrem, descem o braço com força, causando um vendaval de catinga direcionado, ai o pobre do motorista já leva uma na cara de saída e ainda vê um sorrisão amarelo na direção dele dizendo: Bom dia!!!
     Bom dia?? o que tem de bom nessa porra!!! O pensamento é tão alto que ecoa por todos os narizes na vizinhança.
     Ai começa o show, que por mais que seja trágico, e engraçado, o "cabra" segura no ferro e expõe toda a crueldade do sovaco, e sai passando pelas pessoas, buscando o que? o Feromônio da porta de descer, por sorte (hehehehehe) dessa vez ela tá lá no fundo, e ele vai passar por todo mundo como a dizer: Oi, cheguei heim... posso dar uma passadinha??? Ai num primeiro momento a cara de horror das patricinhas, elas já visualizam o sovacão passando rente do pescoço e deixando a marca do macho dominante, e sendo no pescoço, passa pro cabelo, prá roupa e em um segundo é como se ela mesma tivesse o próprio sovaco a odorizar o ambiente. Sendo assim o horror estampado na cara dessas moças é impagável. Mas o melhor é quando o sovaquento se aproxima de um outro sujeito, de terno e gravata ao lado da namorada, e o cara não só encosta como eleva os braços em sinal de alivio por ter achado um cantinho aconchegante prá ficar.. até o fim da viagem... uhahuauhahauhuhahua.. meu ai começam as posturas de dominação e territorialistas, o almofadinha já faz cara de quem diz: se encostar na minha preta com esse futum vou te socar! E o cara olha prá cara dele com quem diz... Vou encostar sim, melhor vou abraçar logo a NOSSA preta. E ficam nessa de caras , bocas, movimentos e odores, lógico.
     Lógico que o cara tá todo engravatado e nem fodendo que ele vai tomar o lugar da mina dele e ficar ao lado do fétido concorrente, ele fica de lá.. do outro lado, fazendo caras, bocas, grunidos, mas fica lá... e a mina dele sendo bombardeada pelos futum... Mas ela acha que ele tá sim tomando uma atitude com relação ao incomodo do momento, e assim vão seguindo.

Saga 3 - Flatulência coletiva
     O povo maldito, dizem que o brasileiro é um povo alegre, que sabe receber bem os que aqui buscam um novo horizonte e que são capazes de dividir o pouco que tem, lutando prá se manter de pé (na vida, não no busão, por que essa é outra história) e muitas vezes com um sorriso no rosto, vão mesmo sem tomar café da manhã encarar mais um dia de lutas e sacrifícios.
    Sim... Eu acredito, principalmente se for prá dividir os gases intestinais com os (tão quanto) pobres que estão lá no busão. Ai vem um maldito (a) e expele, silencioso, o jantar... Agora realiza, o (a) cara acabou de acordar.. passou pelo menos oito horas dormindo, acordou, foi no banheiro, tomou café e não peidou...
   Deixou prá peidar dentro do ônibus. O (A) cara ficou pelo menos 10 horas fermentando aquilo no estômago, passou a noite toda cozinhando aquilo dentro dos tubos e só resolveu abrir as comportas e liberar o excesso quando estava já no mundo, em coletividade, em sociedade!
     Alguém pode dizer prás pessoas que democracia não é bem isso ai? Pois então, depois de liberado, a tendência dos gases é??? Preencher o ambiente. Isso.. Ele busca cada fresta, cada milímetro e tenta se adaptar ao ambiente. E você, né... tá lá... E de verdade, que se foda a ciência, não me interessam os estudos feitos prá determinar o porque a porcaria do gás se espalha pelo ambiente, me interessa nesse momento sair do ambiente e matar o (a) maldito (a) que fez isso.
     Ai sempre tem um (a), que se acha mais esperto (a) que os outros e faz um comentário qualquer, algo como: Nossa, tá um cheiro estranho aqui. Fodeu! Na hora este (a) senhor (a) de belas falas e muito pouco bom senso, se torna o (a) nefasto (a) que expeliu o gás.
     Diz a sabedoria popular que galinha que se espanta é que pôs o ovo. E o (a) dito (a), num arroubo, talvez prá criar um burburrinho popular que faça com que o (a) fascinora se entregue de tanta culpa, resolve sair com algum comentário, lóóóóógico que ele (a) leva a culpa, se não foi ele (a), por que tá se explicando, se ele (a) não tem nada haver com isso, por que tá tentando disfarçar???
    Essa é a outra face do ser humano, achar alguém prá apedrejar, e já que o (a) coitado, geralmente sentado (é sim, os que estão sentados se acham mais inteligentes que os que estão em pé) tece um comentário e é bombardeado com toda sorte de maus olhados, pragas, juras de morte silenciosas e tudo mais. Claro, você se manisfestar, num ambiente de perigo, onde pro morro desabar, bastam as palmas, é pedir prá ser apedrejado em praça pública.
     Sim senhoras e senhores, uma das receitas para uma guerra civil é esta: ônibus cheio, trajeto longo, pouca paciência, flatulência e um idiota que diga alguma coisa. Um simples peido dentro do busão tem tanto poder de destruição quanto a palavra bem empregada.

9 comentários:

  1. hsiuahsiushiuashaishaishas que fofinha!!!! #mata!

    pior fui eu que o velhote disse que "estava passando a mão" nele! #ui!

    é fóooooooooooooooooooooooooooda!

    bjs

    www.programaestressadas.blogspot.com

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  2. Já contribuí para adocicar o ar congelante dentro de um trem lotado. Quase um suicídio involuntário. Acontece... Hahahahahaha! Caralho, Jorge, você é hilário! Ri demais, porra!

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  3. Sabe pra quê serve o trânsito caótico? Ensaio fotográfico. \o/

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  4. observações bem colocadas... viva o fretado (que não está livre das flatulências - mas todo mundo peida, carái....)
    kkkkkkkkkkk

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  5. kkkk Muito bom! E todo busão tem sua história né? Da tia que deixa pra descer na hora q o busão abre a porta e ela tá láááááa no meio do povo, sai arrastando todo mundo, levando mochilas no calcanhar e batendo a bolsa na cabeça da gente rsrsrsr O pessoal fedido então, nem se fala! kkkk Vida dura!

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  6. kkkkkkkkkk pior que isto é não ter altura(quase uma anã) e pegar um metro as 18:oo , fazer baldeação na SÉ e parar em Santana...kkkkkkkk e ainda estou no lucro ,pq depois desta batalha ,sempre encontro um Anjo lindo na catraca..uhuhuuu
    bjs

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  7. Meuu, mto bom!!!! Chorei de rircom suas histórias!!!!

    Bjos

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  8. Muito bom!!!! Gargalhei até... srsrs
    Muito hilário a forma que vc conta suas histórias. Parabéns!
    Tô seguindo...

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  9. Opa... seja bem vinda Claudia e obrigado pelo comentário.....

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